Anima Vegetalis
Imaginário botânico do Mosteiro de Tibães
Paulo Gaspar Ferreira
“Anima Vegetalis” é uma exposição de fotografias que ao longo de 2 anos foram sendo engendradas numa pequena cela monástica do Mosteiro de Tibães. Nasceu de uma cumplicidade desde logo criada entre mim e a cerca.
"Anima Vegetalis" cativa património natural criando património artístico para o transformar em património sensorial.
É composto por 70 imagens fotográficas e constitui uma exposição e um "livro" de folhas soltas acompanhadas por textos (também soltos) da autoria de Theodoro d'Almeida, um dos mais importantes iluministas portugueses. Os pequenos excertos, retirados do ambiente pedagogo da sua "Recreação Filosófica", aproximam-se, aqui, de uma linguagem de quase poesia. Aproximam-se das imagens que, retiradas do chão daquela floresta, facilmente se transfiguram em quase poemas.
As fotografias são essencialmente feitas com "peças" encontradas no chão de Tibães. Preferi, sempre que possível, receber a dádiva daquela floresta do que roubar-lhe o que lhe pertencia.
Do ponto de vista da tecnologia, estas imagens têm característica própria: não utilizo a vulgar câmara fotográfica. Elas são conseguidas com recurso a um simples scanner de escritório que, colocado num quarto escuro "fotografa", de tampa aberta, as peças que lhe são colocadas no vidro. Embora sejam fotografias de captação digital, não têm qualquer manipulação digital, isto é: são sem tempêro.
Da direcção do Mosteiro de Tibães recebi a hospitalidade (tão cara aos seus "criadores", os beneditinos): uma antiga cela monástica albergou durante cerca de dois anos o meu "atelier de campanha" onde cuidava das "minhas" Animas, organizando, olhando, deixando-nos maturar (elas e eu) até nos encontrarmos no que são hoje estas imagens.
A publicação de um "livro" (na verdade não se trata bem de um livro, é antes o conjunto das folhas de papel impressas e preservadas numa "caixa de bombons". Queria que fossem "comidas" como iguarias para os olhos) representa a vontade de que fique o registo. Uma forma de guardar o acto de uma forma consumível.
Dois anos de comunhão e aprendizagem com esta “floresta” criaram uma relação de cumplicidade que permitiu fecundar outros seres. Que sejam agora embriões. Que sejam agora o que temos dentro.
Que sejam hoje aquilo que já fomos e voltaremos a ser. Olhemos para eles como quem os come. Assim os saberemos assimilar, nos saberemos assimilar... vegetais.
Paulo Gaspar Ferreira
Exposições realizadas
Mosteiro de S. Martinho de Tibães / Braga
Museu do Hospital e das Caldas/ Caldas da Rainha
Parque Biológico de Gaia / V. N. de Gaia
CMIA. Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental / Viana do Castelo
CAE. Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz