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Isto que agora é livro quero antes que seja colheita, que seja entendido como safra sementeira, matriz de uma maior e mais profunda busca.

Nasceu de uma paixão, claro... mas nem por isso menos consistente. A ideia chegou abrupta com a Espiga e o Ouriço, dois burricos que passaram a acompanhar-me sempre que tento trabalhar a horta à minha feição. “Pra trás mija a burra” lembrava eu as palavras da avó Emília que, até ali,  tinham continuado envoltas no terno mistério das palavras das avós que já perdemos. A espiga acabava de me demonstrar a pura verdade destas doces palavras. “A pensar morreu um burro” juntava-se à festa sem eu dar conta do cerco. “Um burro carregado de livros é um doutor” lembrava-me um burrico de barro com as alforjas cheias de livros que o meu pai tinha encomendado a um oleiro da minha infância que, para mim valia, naquele (meu) tempo, apenas pelo facto de “viver” numa azenha com uma imensa roda que teimava em acompanhar o movimento perpétuo da água na corrida desenfreada para ir a encher o mar.

José Franco, o pai quase venerava este ainda desconhecido amassador de terras gredas.

Depois começaram a chegar em catadupa uma série de falas que o povo diz e que traduzem ideias construídas neste “personagem”: “Andar de cavalo para burro”; “Quando um burro zurra, os outros abaixam as orelhas”; “Um olho no burro, outro no cigano”.

A curiosidade provocada pela quantidade de coisas que o povo diz sobre este animal levou-me à busca activa e ao assombro pelo património etno-linguístico dispensado aos burros. Fábulas, histórias, anedotas, adivinhas e tantos outros pensamentos “burriquentos”...

A diversidade e a dificuldade em encontrar as fontes que, muitas vezes, não são explícitas levou-me a optar por apenas mencionar no final as obras (em livro) consultadas. No entanto as fontes são mais vastas, a busca com recurso à internet muitas vezes me levou a locais não referenciados bem como a conversa com pessoas sabedoras da cultura do povo me deram pistas e ideias dificilmente referenciáveis.


Gostaria de entender este trabalho como princípio uma vez que, pelas suas próprias características nunca terá um fim. A continuação dependerá agora de quantos o quiserem aumentar com ensinamentos e sugestões que o venham a melhorar.




                                                      Paulo Gaspar Ferreira

                                                      Asnela, Julho, 2011

                                                      paulo.gaspar.ferreira@in-libris.pt

 
 
 

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