Musgos

Teresa Macedo


Quando lemos Musgos de Teresa Macedo,

custa a acreditar ser o primeiro

livro de poesia desta autora.

Habitualmente, as primícias literárias revelam certas

fragilidades e pretensões, com a difícil busca por uma voz própria.

Porém, neste livro, não parece estarmos perante a juvenília da autora,

pois o leitor encontra já

uma voz poética desenvolvida e amadurecida, pressupondo

um convívio assíduo

com a escrita literária, mesmo que ainda.



(...)  estamos perante uma escrita com a

força e a autenticidade que decorrem de certas dominantes

ou obsessões temáticas:

I) natureza metapoética de vários textos ou passagens de escrita, desde os poemas

iniciais, visível até na escolha de certos títulos, quando medita na origem, essência

e função da palavra poética; II) o pendor dialógico desta escrita, entre o sujeito

poético e um Tu, ora presente, ora invocado e desejado (filho, pai, mãe, etc.);

III) valorização intensa e quase sinestésica dos vários sentidos; IV) interligadamente,

o destaque concedido a uma metafórica de lastro rural, resgatando imagens e

metáforas ancestrais, no seu halo de pureza campestre, envolta em certo bucólico

franciscanismo: terra, fragas, árvore, ventania, água, orvalho, fogo, semear,

campo, jardim, seiva, etc.; V) ênfase concedida a uma singular poética do espaço

e sobretudo da casa, enquanto imagem axial com suas variantes de magna mater

(berço, seio, regaço, ninho, casulo, descanso, repouso, colo, peito, abrigo) – “A

casa, a porta aberta entre flores / O amor sorrir, a fogueira acesa”; VI) configuração

de uma poética do corpo, valorizadora da forma de Eros e da sua força vital;

VII) especial atenção a uma tópica da viagem, através das metáforas recorrentes do

caminho, chão, viagem, passo, peregrino, mendigo, travessia, barco, voo, errância,

entre outras, em notação ora realista, ora onírica, insistindo-se na imagem do

caminho errante atravessado pelo homo viator; VIII) celebração da própria vida,

quer em colorações mais eufóricas (destaque para o simbolismo do vinho), quer

em tonalidades mais melancólicas, porque afinal de contas a geometria da dor pode

ser uma das mais fecundas escolas da vida.


José Cândido de Oliveira Martins



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