Nenhuma Flor
oito imagens e o dizer dos lábios
Esta é uma exposição que nasceu de uma dor. Da dor da terra queimada, da dor da destruição. De uma dor partilhada com a poesia da Sandra Costa que para estas imagens escreveu 8 poemas.
As fotografias foram captadas após o incendio ocorrido em 2001 na “Granja de Belgais”, local onde a pianista Maria João Pires desenvolvia o “Centro para o Estudo das Artes”.
Desta partilha nasceu um livro publicado pela In-Libris e pelo “Centro para o Estudo das Artes”
A exposição é composta pelas oito imagens e oito poemas apresentados em moldura de desenho exclusivo em perfil de ferro oxidado formato 60x80 cm.
´Torso que irrompe da mortalidade
contorção de amor pelo mundo´
No princípio,
o sopro é o medo
enrolado sobre os frutos
- onde o visível se aproxima
da solidão profunda –
e acumula-se,
em círculos, a impressão
de um reino posterior
a tudo.
Um emaranhado de risos como serpentes
paira sobre a vertigem e os silêncios da penumbra.
Fábulas agrestes fundem-se por dentro
do nevoeiro e três olhos lúbricos erguem-se
à altura de um pavio.
Abandono-me. Inflamo-me de espírito.
Nimbo a mudez vegetal, os ermos e o invisível.
Repercutem os nomes abatidos
a luz atravessada do avesso
as películas que ficam do absoluto dos poemas
o ofício da vigília dentro do sono mais profundo
- designações trémulas do sagrado
ou um par de asas a corromper o silêncio –