Introdução à Segunda Edição
Quando iniciei este trabalho não imaginava que a palavra “burro” era uma fraude. Sempre a tinha entendido como aquela que representava o animal que fazia parte da minha família afectiva. Para mim, sempre tinha sido o corajoso companheiro que arribava montanhas, comigo em cima, lá para as bandas de Carviçais, quando, no meu tempo de férias (quando o tempo era de férias, mas das grandes), acordava lá por volta das 2 ou 3 da manhã para ir com o Tio Antoninho a regar a horta.
Trinta e tal anos depois, percebo que a palavra “burro”, apesar de ir contra a opinião de linguístas e dicionaristas (que quase sempre a classificam como substantivo masculino) não é substantivo não senhor: “burro” é, essecialmente, adjectivo. Quer quase sempre chamar a atenção para algum atributo, menos lisonjeiro, de alguém. Serve-nos acima de tudo como argumento para agredirmos, achincalharmos, menosprezarmos algum dos nossos congéneres.
Creio que criámos no burro o nosso alter-ego em forma de insulto. Quando queremos “adjectivar” o comportamento de um qualquer semelhante, substituímos os adjectivos que são tão próprios aos seres humanos pelo substantivo masculino (ou feminino) “burro”. Usamo-lo como insulto quando, entre nós, nos queremos adjectivar de teimosos, mandriões, ignorantes, obstinados, preguiçosos, ingratos, analfabetos, estúpidos ou parvos.
Curiosamente, tão ignorantes somos, que nos adjectivamos com, exactamente aquilo que não somos. Antes parecessemos (nós homens) um pouco mais com estes animais que, sim, deveríamos aprender a adjectivar como inteligentes, trabalhadores, sensíveis, hiper-sensíveis, resistentes, ternos, fiéis, hábeis, conhecedores, afectuosos e tantos outros adjectivos que deixo por descobrir.
Continua a ser difícil a sistematização. As diversificadas origens e tipo de informação constituem uma panóplia de conhecimentos de que nem sempre é possível reconhecer autoria. Peço, aqui, desculpa aos possíveis autores que não estejam identificados. Quando tal acontece é pelo facto de muita da informação me chegar já falha da sua identificação.
Não é, este, um trabalho científico.Trata-se tão somente de uma recolha divertida, sem pretensão a tese ou demonstração teórica. Optei por uma apresentação não sistematizada em nome de uma leitura mais lúdica e prazenteira.
Quero, aqui, agradecer o empenho e cumplicidade nascidas da publicação da primeira edição deste livro. Ao Jorge Ribeiro pela belíssima e divertida forma de mostrar este trabalho. Ao Brendan Hemsworth pela música: foi ele que transformou canções em partituras e tablaturas. À Judite Dias porque, na apresentação da primeira edição (em Atenor) me prometeu (e cumpriu) novos proverbios burriquentos que eu desconhecia. Ao Paulo Adrião pela revisão. À Marta Matos pelo estímulo e pela descoberta do Diogo que desenhou todos estes burriquitos mirandeses sem nunca ter visto nenhum à sua frente.
A segunda edição deste livro serve, não apenas as exigências de mercado (na verdade rapidamente se esgotou a primeira edição), mas a necessidade de continuar. O contributo de tantos foi tão grande que parecia truncada a primeira edição. Que sirva, também, esta para continuar outras.
Paulo Gaspar Ferreira
Asnela, Agosto, 2012
paulo.gaspar.ferreira@in-libris.pt